A comédia é um gênero, com a capacidade de revitalizar abordagens cinematográficas com a possibilidade de introduzir críticas, sátiras, gestos e características de desconstrução para determinados filmes. Essa tendência de incorporar esses elementos ao ponto de criar um elemento novo e adaptável para as convenções narrativas desses respectivos gêneros pode ser vista em diversos estilos, como no terror em “Beetlejuice”, no faroeste, “Banzé no Oeste” e de ação, tendo no recente “Trem-Bala”.
Dito isso, recentemente, têm sido comum o surgimento de comédias ácidas que não se escondem da vulgaridade, de piadas escatológicas e de cunho sexual em abordagens que estariam voltadas para o público infantil; lugar exatamente que, “Ruim Pra Cachorro”, novo filme do diretor Josh Greenbaum (Duas Tias Loucas de Férias) se posiciona.
Agrupando todas as características e tendências típicas que se utilizam do cachorro para ser não só o protagonista, mas o porta-voz de um discurso, essas narrativas se revestem de elementos palatáveis e uma busca de identificação imediata com o público com arcos que vão desde o abandono, a descoberta de uma nova matilha de cães, descobrir um novo propósito de amadurecimento e a chegada de um equilíbrio e novo ponto de partida, mas sempre mirando de maneira mais apelativa e fofa possível, mas aqui existe uma tentativa explícita de ruptura desde o prólogo do filme que faz menções do órgão sexual do dono e trazem piadas e elementos que vão ser trabalhados na projeção.
A ideia de revestir a natureza inspiradora e sutil da abordagem com uma vulgaridade sem papas na língua, tal qual recursos típicos da comédia apelativa, é popular nos formatos de stand-up e revestem essa história que traz um protagonista vira-lata sem qualquer tipo de malícia e incapaz de perceber os abusos do dono e a partir da interação com outros cachorros, que vão de um buldogue francês a um pug (de um comportamento tresloucado, desbocado e principalmente imprevisível), além da atrapalhada pastora australiana Maggie e do igualmente desajeitado caçador dinamarquês Hunter. Juntos eles passam por aventuras, de certa forma previsíveis, mas sempre reforçadas por uma metralhadora incessante e inesgotável de piadas. Mesmo que exista uma certa transgressão de formato e uma satirização que apela até mesmo para o metalinguístico que escancara a ideia do projeto, existe uma certa sensação de gratuidade, mesmo que possua elementos disruptivos e alfinetadas. O texto parece muito preso às convenções a serem parodiadas e todo arco do filme é estruturado com as dificuldades, os conflitos e os clichês típicos de obras cinematográficas desse estilo e até mesmo algumas mensagens são reforçadas, mas de outro lado a repetição e o excesso do elemento que seria o diferencial, o elemento que transportaria “Ruim Pra Cachorro” em outro território, parece um elemento forçado, imposto pelos criadores, quase à parte da própria narrativa. Nesse sentido, o filme não se difere muito de excessos apresentados por produções muito similares como “Ted” e “A Festa da Salsicha” que buscam credenciar a própria narrativa norteada pelo flerte nada sutil e totalmente escancarado, do que é popularmente conhecido como “besteirol”, que deixam o discurso e as mensagens em segundo plano. “Ruim Pra Cachorro” não inova e adota mais um exercício de estilo com fórmulas e recursos que deram certo, entretanto pelo caráter universal e a subjetividade do humor é um filme que certamente pode encontrar apreciadores e entusiastas de recursos cômicos que não tem medo de evidenciar o ridículo e o inusitado, mas parece pouco por usar o gênero como um mero tapete de situações para provocar o riso.
FICHA TÉCNICA
Direção: Josh Greenbaum
Roteiro: Dan Perrault
Elenco: Sofía Vergara, Will Ferrell, Isla Fisher, Harvey Guillén
Produção: Erik Feig, Josh Greenbaum, Julia Hammer, Christopher Miller
Produção Executiva: Nikki Baida, Shayne Fiske, Douglas C. Merrifield
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