A Última Vez que Fomos Crianças, baseado no livro homônimo de Fabio Bartolomei, marca mais um crédito na cadeira de direção do italiano Claudio Biso, ator ("Dá Para Fazer"), além de dublagens de produções internacionais para o país natal. O projeto consiste em uma comédia dramática que mostra os horrores da guerra sob uma ótica da inocência juvenil.
Histórias de amadurecimento, que envolvem um arco de experiências, novos encontros, descobertas, conflitos e aprendizados, são um prato cheio para explorar as relações humanas via, algo tão caro e universal quanto a passagem de tempo, e claro, várias abordagens são possíveis, assim como muitos outros filmes que se situam na Segunda Guerra Mundial e que se centralizam na apreensão trágica dos acontecimentos como “Alemanha, Ano Zero”, “Vá e Veja”, “Brinquedo Proibido”, e também, o recente “Jojo Rabbit”, um olhar mais agridoce e pueril sobre o período histórico.
A produção abraça a ideia da inocência e a configuração da banalidade do mal, uma vez que tudo é assimilado com uma normalidade e as pessoas comuns não têm a dimensão dos pormenores e da gravidade da situação que está por vir, muitos menos os porquês e as motivações. E a partir dessa conjuntura arenosa, vivem um grupo de amigos que celebram os ideais nazistas e fascistas, em uma verdadeira idolatria acrítica.
Ademais, o tom adotado aqui não se distingue muito de abordagens infanto-juvenis típicas de “sessão da tarde” de um grupo desajeitado de amigos que partem para novas experiências e cada um conhece mais o outro, e aqui essas interações assumem um tom açucarado tanto pela música, quanto o tom. E por mais que exista um dinamismo e química entre esses jovens e, se por um lado o contexto histórico não seja totalmente ignorado, é impossível não perceber a gravidade dessa situação a médio prazo.
Porém, por mais que a comédia e o percurso dessa inocência infantil seja desenvolvido, o texto parece não conseguir encaixar contrapontos e comentários de forma convincente e orgânica, e quando faz menções ou expõe a guerra frontalmente o filme parece atenuar e perder o foco narrativo.
A fotografia lavada e homogênea acaba por reforçar uma leveza, e existem poucas mudanças de indicativos em relação a cor e a imagem que traçam essa dinâmica de neutralidade, no máximo indicando um tom nostálgico. Já a direção de arte e o figurino não impressionam, com cenários e adereços mais simplórios, sem muitas distinções e características marcantes de época, adotando uma tendência genérica.
Assim, o excesso de previsibilidade dos desdobramentos e de como os acontecimentos e as personalidades vão se desabrochando não ampliam a possível emoção dessa relação de descobertas, nem mesmo com uma forte revelação e comentário ao final da projeção atenuam a condução rarefeita e predominantemente unidimensional do longa-metragem.
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